O AI ACT vai nos salvar ou atrasar?
O AI ACT é “O Regulamento Inteligência Artificial (AI ACT) é o primeiro quadro jurídico em matéria de IA, que aborda os riscos da IA e posiciona a Europa para desempenhar um papel de liderança a nível mundial.” (Fonte: União Europeia)
Acredito convictamente que grande parte dos atuais governantes europeus estão a acabar com a europa como a conhecemos, uma senhora já idosa, muito conhecedora do mundo (também com um grande contributo dos portugueses, pelos descobrimentos), que definia os padrões da moda, arte, integridade, democracia e identidade da população. No que ao assunto deste artigo diz respeito, era também a Europa quem estava à frente na qualidade do ensino, o que alavancava por si só os grandes avanços tecnológicos, médicos, etc.
Penso que o AI ACT pode ser mais um (grande) contributo para a Europa continuar o seu declínio e deixar cada vez mais de ser vista como uma referência mundial.
Um exemplo da capacidade que a Europa teria se fosse bem conduzida, pode ser evidenciado pelo facto de atualmente as máquinas que fabricam os chips preparados para a IA (de última geração), são fabricados na ASML, uma empresa holandesa.
A Europa, em vez de tomar as rédeas da IA ou pelo menos fazer parte do grupo da frente no aproveitamento desta tecnologia poderosa, que pode provocar um impacto ao nível do que a revolução industrial provocou no mundo como o conhecemos hoje, optou por ser a pioneira na criação de regras (ou constrangimentos) na utilização e evolução da IA.
Mas o que estão a fazer as potências mundiais?
Os EUA, a maior potência mundial
Desde o início da sua existência, que os EUA começaram por usar o conhecimento adquirido de forma imposta, através dos ingleses, para se tornarem o expoente máximo da tecnologia. Depois, passou a ser comum ouvirmos falar de cientistas europeus (e não só) que emigravam para os EUA, porque lhes davam melhores condições para evoluírem, investigarem, inventarem.
Esta emigração era uma emigração de luxo e fazia parte dos planos dos EUA para se tornarem a maior potência tecnológica do mundo, o que conseguiram. Atualmente as maiores tecnológicas mundiais são dos EUA. Este processo de aquisição de talento serviu para “andarem” mais depressa, mas também para melhorar a própria qualidade do ensino, garantindo que num futuro próximo necessitariam menos de “importar” cientistas, pois passavam a “fabricar” os melhores do mundo.
Com tudo isto, os EUA já estão a fazer o seu caminho para a liderança da IA. Estima-se que na próxima década deixem mesmo de precisar da ASML, conseguindo triplicar a produção interna de chips. Este planeamento para a liderança já está a ser feito há algum tempo, pois apesar de quase 50% das máquinas produzidas pela ASML terem como destino a China, a ASML restringe as suas vendas para o mercado chinês, de forma a não vender máquinas capazes de produzirem os chips de última geração, preparados para a IA. Quem é o responsável por este “boicote” comercial? Os EUA, pois pelo menos desde 2018 que pressionam o governo holandês e tem conseguido manter este boicote.
A China ficou para trás?
A China fez um caminho diferente. Suportada pela ideologia política do país, investiu nos seus “cérebros”. O sucesso tem sido enorme, ainda que considere que está sempre um passo atrás dos EUA.
A China, fechada no seu mundo, conseguiu, ainda assim, ser hoje uma potência tecnológica preponderante e que tem estado muito ativa. Até mesmo na questão da IA, apesar dos EUA lhe terem tentado “cortar” as pernas no acesso aos chips de última geração, conseguiu ainda assim registar o maior número de patentes dos últimos anos:
“Os cinco principais polos de inventores são China, com 38.210 invenções, EUA com 6.276, Coreia do Sul, com 4.155, Japão, com 3.409 e Índia, com 1.350”
Fonte: ONU News – https://news.un.org/pt/story/2024/07/1834141
Isto só revela que a China soube ultrapassar o boicote (como era de esperar) e tem o know-how interno para conseguir tornar-se o principal produtor de tecnologia baseada no IA. Nem os EUA a impediu, só a conseguiram atrasar uns anos.
E a Europa?
O que é que a Europa (UE) fez perante isto? Criou a primeira regulamentação sobre a inteligência artificial, o “AI ACT”.
Esta regulamentação é essencial para o futuro da utilização da IA? Na minha opinião, é, claro que sim.
Era importante que a Europa liderasse este processo? Na minha opinião, não.
Claro que fica bem para grande parte da opinião pública, porque demonstra preocupação com os cidadãos “estão a defender a nossa vida, a zelar pela nossa privacidade, pela nossa segurança”. Mas não será também um fator para um atraso tecnológico perante o resto mundo? Não vai a EU, mais uma vez, condicionar os europeus em vez de os impulsionar a serem melhores?
Na minha opinião, vai, claro que vai. O “AI ACT” vai restringir o acesso a informação, aumentar a burocracia, obrigar a um compliance com legislação exaustiva (e necessária?) para que fabricantes europeus cumpram as regras, aumentando consequentemente custos de produção. Isto vai diminuir a competitividade das empresas europeias de desenvolvimento de software (e de outros sectores)! A ciência e a tecnologia sempre evoluíram graças ao conhecimento, experimentação, mas também com o erro e dando lugar ao contraditório, à discussão sem barreiras.
Esta perspetiva educadora (para mim, castradora) da UE, que teima em dizer aos seus cidadãos como devem viver, com o intuito de “os salvar”, lhes dar um caminho, de decidir o seu (nosso) futuro, está, quanto a mim, a limitar a evolução da europa. Estamos a tornar-nos seguidores e não líderes.
E se estiverem errados? O que será do futuro dos nossos filhos e dos nossos netos?
O Stephen Hawking disse que a “Inteligência Artificial seria a mais extraordinária – mas também a última – invenção da humanidade”. O Stephen Hawking era um génio e por isso tenho muito cuidado em argumentar sobre o que disse, mas não acredito que a IA seja a última invenção da humanidade. Contudo, acredito que possa ser o fim da Europa como um bastião de progresso e de uma sociedade referência para o resto do mundo. Vamos ser uma região que vais estar sempre um passo atrás, perante as outras potências, se algo não for feito para mudar isso.
Se a UE não nos deixar usar as mesmas ferramentas a que o resto do mundo vai ter acesso ou não nos reinventarmos, estamos em risco de passarmos a pertencer a uma espécie de 2º Mundo – vivermos razoavelmente bem, mas sem grandes hipóteses de virmos a pertencer ao 1º mundo, sem direito à ambição.