Conversa com Poethicus: Como a Inteligência Artificial está a mudar a forma de ensinar Camões

O que é o Poethicus?

O Poethicus é um chatbot-tutor criado para responder a perguntas sobre a vida, o contexto e a poesia lírica de Luís de Camões. Desenvolvido em colaboração entre a Biblioteca Escolar e a disciplina de Literatura Portuguesa, tem como objetivo aproximar os alunos da obra camoniana de forma interativa e criativa.

O chatbot pode ser experimentado através da seguinte ligação: https://mizou.com/preview-bot?ID=8925

Durante a atividade, os alunos conversam com o chatbot, explorando temas como o amor, a saudade, o tempo e a desilusão. No final, desafiam-no a compor um pequeno soneto ao estilo camoniano, mas em português moderno — um exercício que combina escrita criativa com pensamento crítico.

Como surgiu a ideia?

A iniciativa nasceu do desejo de renovar a abordagem à leitura literária, unindo a tradição humanista da obra de Camões às potencialidades da Inteligência Artificial.

A experiência “Conversa com Poethicus” faz parte de um cenário de aprendizagem apoiado pela Biblioteca Escolar, em que o aluno é o protagonista: pergunta, questiona, avalia e cria.

Isto é tecnologia ou é literatura?

É, acima de tudo, literatura. A IA não substitui o professor nem o texto, mas cria uma ponte entre o leitor contemporâneo e a poesia clássica.

A investigadora portuguesa Adelina Moura (Universidade do Minho) defende que “a IA deve ser usada como ferramenta de descoberta, não como substituto da significado sensibilidade humana”. O Poethicus concretiza essa visão: estimula o diálogo literário, mas é o aluno quem valida, interpreta e discute as respostas.

Que competências os alunos desenvolvem?

O projeto integra-se nas Aprendizagens Essenciais de Literatura Portuguesa, promovendo:

Leitura crítica e interpretação textual — os alunos analisam temas centrais da lírica camoniana e comparam-nos com valores atuais.

Conhecimento histórico e cultural — compreendem as influências renascentistas e neoplatónicas na poesia de Camões.

Criatividade e expressão poética — produzem um soneto original inspirado na forma e no estilo camoniano.

Literacia digital e mediática — aprendem a dialogar criticamente com sistemas de IA, distinguindo informação válida de respostas geradas automaticamente.

Autonomia e colaboração — trabalham em pares, desenvolvendo competências de síntese, argumentação e escrita criativa.

A Inteligência Artificial substitui o professor?

Não. O professor é essencial — atua como curador, mediador ético e mentor criativo.

Segundo o relatório do Instituto Nacional de Administração (INA, 2024), o uso educativo da IA deve basear-se em “transparência, supervisão docente e pensamento ético”.

No Poethicus, os alunos avaliam o texto gerado, identificam traços camonianos e debatem o que é “autêntico” e o que é “artificial”. Este momento de análise é o verdadeiro espaço de aprendizagem.

E o impacto nos alunos?

Os resultados são muito positivos. Muitos descrevem a experiência como “conversar com o próprio Camões”, o que aumenta significativamente a motivação para ler poesia clássica.

Um estudo da Universidade do Porto (Silva & Moreira, 2023) sobre gamificação e aprendizagem digital confirma que o diálogo interativo e personalizado com a tecnologia melhora a retenção do conhecimento e o envolvimento dos alunos.

O Poethicus desperta curiosidade, promove debate e transforma o estudo literário numa experiência viva e participada.

Esta experiência é replicável noutras áreas?

Sim. O modelo pode ser adaptado a outros autores e contextos — um “PessoaBot”, um “EçaGPT” ou um assistente literário para a poesia trovadoresca.

Como defende Rui Lima, especialista em inovação pedagógica, a IA deve “ampliar o universo de aprendizagem, criando novas formas de diálogo entre aluno, texto e mundo”.

Esta abordagem está alinhada com a Educação 5.0, que valoriza a personalização, a criatividade e a ética no uso das tecnologias (Portugal.gov.pt).

Em síntese

O projeto Conversa com Poethicus mostra que a Inteligência Artificial, quando usada com intencionalidade pedagógica, pode ser uma aliada poderosa da Literatura Portuguesa.

Ao unir Camões e IA, tradição e inovação, emoção e algoritmo, esta experiência ajuda os alunos a compreender que a poesia continua viva — mesmo num ecrã.

“Entre dados e sonhos, caminha o poeta,
Que no código busca o amor que o inquieta.”