Terrorismo Quântico: Como a Inteligência Artificial Pode Compreender o Inimigo que Não se Vê

Marko Tavares

Product Owner & IT Specialist.

Num mundo onde a complexidade se tornou norma e o risco deixou de ser previsível, o ensaio “QUANTUM TERRORISM: Points of Contact Between Modern Physics and the Phenomenon of Contemporary Terrorism”, de Luís Tavares Nunes (Coronel do Exército Português) e Paulo Mónica de Oliveira (Capitão da Marinha Portuguesa), propõe algo ousado: pensar o terrorismo como um fenómeno quântico — e combatê-lo com IA que compreenda incerteza.

Superposição e Incerteza: Quando o Perigo Ainda Não Colapsou

No coração da mecânica quântica está o princípio da superposição: partículas podem existir em múltiplos estados até que uma observação provoque o colapso para um único estado.

De forma análoga, o terrorista contemporâneo não é um perfil fixo. Pode ser, em simultâneo, cidadão, estudante, trabalhador e ameaça em formação. Até ao momento da ação, a sua identidade está “em aberto”.

O desafio atual: o perigo não é visível — é potencial. Por isso, os sistemas de segurança devem mapear probabilidades, não apenas procurar alvos. Tal como em IA, não se identifica apenas o “quem”, mas estima-se o quão provável, em que condições e com que sinais precoces.

IA Pós-Determinista: Modelar Incerteza como Matéria-Prima

Durante anos, a IA aplicada à segurança concentrou-se em predição determinista — perfis, listas de vigilância e dados históricos. Essa abordagem falha em ambientes não-lineares e mutáveis.

Uma nova geração de IA deve operar como modelo probabilístico dinâmico, aprendendo com:

  • Microcomportamentos desviantes (ainda legais).
  • Padrões de linguagem em mutação.
  • Alterações no “clima digital” que antecedem radicalizações.

É a transição de uma IA que “deteta” para uma IA que sente padrões em formação — capaz de operar com informação incompleta e ambígua (p. ex., inferência bayesiana e modelos generativos autoajustáveis).

Entrelaçamento (Entanglement): Células Sem Fios Visíveis

No entrelaçamento quântico, partículas partilham estado à distância. No terrorismo moderno, células radicalizadas operam isoladamente, mas reagem em cadeia. Partilham narrativas, linguagem simbólica e sentimentos de injustiça, amplificados por redes sociais.

Estas ligações não são visíveis no tráfego digital clássico, mas a IA pode reconhecer:

  • Co-ocorrência simbólica.
  • Padrões discursivos paralelos.
  • Reações coordenadas sem coordenação explícita.

Trata-se de uma IA inspirada em física e não apenas em estatística — apta a reconhecer sistemas complexos interligados, mesmo sem canais diretos.

IA como Sistema Sensorial, não Apenas Analítico

Na abordagem tradicional, a IA é “radar”. Na abordagem emergente, deve atuar como sistema nervoso sensorial, absorvendo sinais fracos, detetando ressonâncias emocionais e antecipando condições de radicalização — antes da manifestação da ameaça.

É a diferença entre observar o passado e interpretar o que está prestes a ganhar forma.

Simular, não Prever: O Valor da IA Inspirada na Mecânica Quântica

À semelhança da modelação climática ou de mercados, é possível simular dinâmicas de contágio ideológico e radicalização social com IA que modele:

  • A propagação de ideias em redes.
  • A reação de grupos sob pressão simbólica/emocional.
  • O ponto de viragem em que frustração se torna ação violenta.

Em vez de procurar o “terrorista perfeito”, modela-se a paisagem onde o extremismo germina — intervindo no ecossistema antes da formação de células.

Limites da Metáfora Quântica

Como sublinham os autores, o modelo não é universal. Em conflitos simétricos (ex.: guerra na Ucrânia), com exércitos formais e objetivos físicos, a lógica é mais clássica: desgaste, forças em campo, ocupação territorial.

Já em conflitos assimétricos — ataques em Israel ou atentados inspirados por redes online —, a metáfora quântica mostra-se particularmente ajustada: invisibilidade, descentralização, auto-organização e entrelaçamento emocional.

IA como Ferramenta de Compreensão, não de Controlo

Não se combate complexidade com controlo; combate-se com compreensão. A IA do futuro não será um sistema de comando, mas de escuta, tradução e adaptação.

Num mundo em que inimigos já não marcham em formação, mas se sincronizam por algoritmo e indignação, precisamos de IA que pense como sistema adaptativo.

Tal como na física quântica, não se observa o mundo sem o afetar. Na segurança, a forma como modelamos o terrorismo influencia a forma como ele se manifesta.

Leitura recomendada: Artigo completo

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